domingo, 9 de outubro de 2011

Rota das Aldeias Históricas

A GR22, mais conhecida por Rota das Aldeias Históricas, é um passeio com mais de 500 Km com o intuito de passar por um conjunto de aldeias medievais e com muita história.
Desde que tomei conhecimento da sua existência que fiquei com vontade de palmilhar este caminho de bicicleta, se bem que a visita a estas aldeias de carro ou qualquer outro transporte não deixava de ser interessante!
Decidi, então, que nas férias iria fazê-lo e assim foi, de 17 a 26 de Agosto comecei por apanhar o comboio, aliás 4 comboios, até Celorico da Beira e aí comecei a aventura, apenas com uma mochila nas costas e muita vontade de visitar e conhecer tudo o que esta parte de Portugal tem para nos oferecer...!

From SINCI



Dia 1 : Celorico da Beira – Linhares

A viagem de comboio foi muito longa e maçuda mas devo confessar que adorei observar a Serra da Estrela a aproximar-se com toda a sua imponência. Foi empolgante a chegada a Celorico da Beira e o início das pedaladas se bem que se fazia sentir um calor insuportável.

Foram precisos cerca de 30 km para chegar a Linhares da Beira com uma paragem no café de Mesquitela para um lanche, visto ainda não ter almoçado. Uma aldeia bonita e muito antiga e ainda assim cheia de vida até porque o início da festa da aldeia seria no dia seguinte, daí muitos dos preparativos já estarem feitos.



De Grande Rota das aldeias Historicas

O castelo de Linhares assenta como uma luva num penedo colossal que o engrandece ainda mais, aqui pude contemplar o por de sol fora de série e admirar a Serra da Estrela que seria o meu desafio do dia seguinte.

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Aqui encontrei um amigo que me fez companhia durante bastante tempo. Não sei o nome dele mas aqui fica uma referência...

De Grande Rota das aldeias Historicas

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O jantar foi no restaurante Cova da Loba, muito bom e ambiente muito agradável e a noite foi passada na Casa Pissarra.



Dia 2 : Linhares – Piódão

Estava ansioso por este dia. Foi um amanhecer cheio de adrenalina, não é todos os dias que acordamos a saber que vamos atravessar a Serra da Estrela de bicicleta!

A parte da manhã correu muito bem. Foi um subir contínuo praticamente até à hora de almoço. No entanto, a frescura da manhã ajudou bastante.
Em Vale do Rossim existe uma praia fluvial junto a uma barragem onde parei num restaurante que lá existe.

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Retomei, de seguida, o caminho que continuou a subir até à Lagoa Comprida.

A parte da tarde, apesar de ser praticamente sempre a descer até Vide, foi mais custosa por se fazia sentir um calor inexplicável, mesmo andando debaixo das árvores.

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A descida terminou em Vide. Aqui parei numa mercearia, para comprar fruta, onde estavam três senhoras à conversa. Fui logo questionado pelas três, queriam saber de onde vinha para onde ia de onde era, etc..., foi uma conversa bem disposta. Quando disse que ia para Piódão disseram-me que o melhor caminho seria pela estrada mas eu estava determinado a ir pela serra o que as deixou escandalizadas, até porque, segundo elas, a bicicleta não subia a serra. Eu disse que levava o GPS com o caminho e a senhora do supermercado apressou-se a dizer… ah mas aqui com o GPS não dá!

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Adorei esta conversa e até fiquei motivado para continuar!

Depois de estar dorido das descidas e moído do calor, veio mais uma subida interminável até Piódão, chegou como se de um castigo se tratasse! Mas valeu a pena assim que vi Piódão pela primeira vez, fiquei apaixonado!!!
Jantei uma chanfana no restaurante Piódão XXI e dormi da bonita e acolhedora Casa da Padaria, gostava de ter ficado mais um dia... hei-se lá voltar!

Devo dizer que este dia correspondeu a todas as expectativas, valeu cada gota de suor!!!



Dia 3 : Piódão – Castelo Novo

Não há explicação para este dia, até Dornelas do Zêzere, onde almocei, foi um trajecto bastante duro. Foi uma pena deixar Piódão para trás mas adorei subir até às eólicas da serra onde se tem a sensação de estarmos no topo do mundo! 
Em Dornelas do Zêzere fiz uma paragem para um almoço merecido. A seguir ao almoço foi desumano…
Atravessei o rio Zêzere e comecei a subir a serra da Gardunha. Lá em cima, a serra é um constante sobe e desce, de eólica em eólica contornando cada recorte da montanha que me deixou louco. 
A chegada a Castelo Novo foi quase de noite e fui directo para a Casa Guterri que devo dizer, foi a minha estadia favorita, pelas instalações, pela simpatia das pessoas pela beleza da envolvência.

No final do dia e feitas as contas, acho que foi, sem dúvida um dos dias mais incríveis e marcantes de toda a viagem, por um lado pelas paisagens… por outro pelas muitas dificuldades que acabaram por ser ultrapassadas. Acabou por ser um sofrimento com glória no final!!!

Dificilmente vou esquecer a Serra da Gardunha, esta deixou-me um sentimento de amor/ódio que ficou gravado!



Dia 4 : Castelo Novo – Monsanto

Este dia foi bastante diferente dos anteriores, muito por causa da mudança, quase radical, do terreno e paisagem.
A temperatura estava significativamente mais baixa o que tornou o passeio bem mais agradável e prazeroso!
A serra da Gardunha ficou para trás, dando lugar a uma espécie de planície acidentada por onde o caminho serpenteava por entre terrenos agrícolas.
Ao longo do caminho fui encontrando sítios em que não se podia passar devido à existência de portões fechados a obtruirem a passagem e fui forçado a fazer alguns desvios.

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Pouco antes de chegar, encontrei uma calçada romana lindíssima e escorregadia, devido ao musgo e à chuva que tinha caído, onde encontrei uma figueira que me fez parar e disfrutar da vida tal como ela é, simples e doce!
Cheguei a Monsanto por volta das 16:00 e dirigi-me imediatamente à Casa do Chafariz, onde haveria de pernoitar. Mais tarde, durante um passeio pela, outrora, aldeia mais portuguesa de Portugal apareceu uma tempestade de verão que tornou a visita mais mística e mais “molhada”!

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Monsanto é uma aldeia embutida nos rochedos que brotam da montanha, é fantástico ver como as casas encaixam na natureza.


Dia 5 : Monsanto – Sortelha

Logo pela manha, quando me levantei para partir em direcção a Sortelha, ainda estava a chover, no entanto, enquanto me preparei e tomei o pequeno almoço, a chuva parou e não voltou a aparecer.
Foi um dia de diversão, o caminho, embora com alguma altimetria, é, além de bonito, menos monótono do que o do dia anterior. Gostei especialmente da parte da barragem da Meimoa, junto à Serra da Malcata.

De Grande Rota das aldeias Historicas

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Sortelha é uma aldeia lindíssima recolhida na sua muralha que já perdeu a conta à idade que tem. Às vezes, fica-se com a sensação que, a qualquer momento vão aparecer uns cavaleiros a cavalo de espada em punho!!!

De Grande Rota das aldeias Historicas

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Fiquei na Casa do Campanário e jantei no restaurante D. Sancho I. Apesar de já ter estado em Sortelha anteriormente, esta visita teve um sabor especial.


Dia 6 : Sortelha – Castelo Mendo

Saí de Sortelha por volta das 08:30 com destino a Castelo Mendo e a primeira paragem foi em Sabugal para o pequeno almoço. O percurso tem uma frescura especial e vale a pena disfrutar de todas as curvas por onde se passa.

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Na hora do almoço parei no restaurante Eden numa aldeia, cujo nome já se me varreu, e pedi uma sopa e uma sandes, mas afinal, e ao contrário do que me tinham dito, não havia sopa! Pedi então outra sandes porque afinal, isto de pedalar faz fome! Mas a resposta que tive foi :
“Não tenho vagar para estar sempre a fazer sandes!!!”
Fantástico, não?!!!

O caminho é feito, em grande parte, num planalto onde se rola muito bem por entre cercas e onde se vêm apenas alguns animais.

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A passagem pelo rio Coa é qualquer coisa! Feita através de uma ponte muito estreita e em pedra que já não se encontra por aí com facilidade, Adorei!
A seguir ao rio, começa-se a subir por entre uma mistura de terrenos agrícolas e baldios até que Castelo Mendo começa a ganhar forma definida.
À chegada, estavam duas pessoas de idade à entrada da muralha, entrei e segui deslumbrado, até ao pelourinho onde parei para observar. Uma visita a Castelo Mendo é uma autêntica viagem no tempo, toda a aldeia é, ela própria, um museu. Fiquei com pena de ver todos aqueles monumentos a caírem aos pedaços e a transformarem-se em ruínas.

De Grande Rota das aldeias Historicas

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Castelo Mendo é uma aldeia onde não há comércio nenhum senão uma espécie de posto de turismo onde se vendem algumas coisas regionais. Daí ter sido um problema o jantar… Pernoitei na incrível Casa do Corro.



Dia 7 : Castelo Mendo – Almeida

Saí de Castelo Mendo por volta das 09:30 em direção a Almeida. Tinha planeado que este dia fosse o dia de descanso daí ter feito apenas cerca de 20 Km que não deixaram de ser agradáveis.

Ainda assim, fui encontrando direções que nos guiam pela GR22.

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Ao fundo, no vale, voltei a cruzar o Rio Côa... magnífico!

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Cheguei a Almeida por volta das 12:30 e fui directo para a residencial Muralha onde ficaria nessa noite. Passei o dia a passear por Almeida e a espreitar todos os cantinhos que encontrei.


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A muralha de almeida tem a forma de uma estrela que a torna peculiar. Gostei muito de Almeida embora fosse bem mais urbana do que qualquer uma das aldeias que visitei nos dias anteriores.



Dia 8 : Almeida – Marialva

Arranquei de Almeida pela manhã, cheio de vontade de continuar o passeio com mais uma etapa que sabia, à partida, que não ia ser fácil. A primeira parte do trajecto desenrola-se num planalto ao longo de vários quilómetros que se revelou muito agradável. Sempre sem passar por outras pessoas, foram algumas horas de sossego com alguns percalços, visto que o caminho estava, por vezes, fechado à passagem devido (penso eu!) ao gado que ia pastando na sua tranquilidade.

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As horas foram passando, e como ia passando ao lado das aldeias, acabei por ficar faminto e quando decidi parar numa aldeia, qual não foi o meu espanto quando me disseram que não havia nada para comer senão um pacotinhos de batatas fritas! Lá teve que servir! Mais tarde, encontrei umas pereiras à face da estrada, que estavam carregadinhas de peras, e fiz desse momento um autêntico banquete!

Segui viagem e a paisagem mudou, o caminho tornou-se, de certa forma, labiríntico, por sítios em que não tinha bem a certeza se seriam particulares, com casas abandonadas, e sempre sem ver ninguém, estava a ser mágico!!!.... até que encontrei, num terreno 3 cães da Serra da Estrela que não acharam muita piada à minha presença. Parei imediatamente e gelei! Felizmente o dono dos cães estava por perto e chamou-os, estava salvo!

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Mais uma travessia pelo Rio Côa...

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A certa altura avistei Marialva no topo de uma montanha ao longe, estava perto. Mas ainda tive que arranjar maneira de atravessar uma autoestrada nova, penso que seria a IP2, não sei…

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Em Marialva, que era muito bonita, fui muito bem recebido pela senhora da Casa das Freiras, onde fiquei. Indicou-me o único café da aldeia e disse-me que lá talvez me servissem uma sopa. Dirigi-me para o café para comer alguma coisa e a senhora do café já tinha sido avisada pelo telefone, pela senhora da Casa das Freiras, que queria sopa, espectáculo, hein?!!! Comi a melhor tosta mista de sempre!, e combinei com a senhora do café que mais tarde passaria lá para comer a tal sopa, ela ainda a ia fazer.

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Ainda deu para bricar um bocadinho com mais uma amiga de 4 patas!

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Adorei Marialva, por tudo!



Dia 9 : Marialva – Celorico da Beira

Saí de Marialva por volta das 06:30 com o objectivo de chegar a Celorico da Beira a tempo de apanhar o comboio que passava de manhã. Meia hora passada, o dia ainda não tinha nascido por completo, andava eu por caminhos entre terrenos agrícolas, fui perseguido por um cão (grande!!!) que não desistiu até eu já não ter mais forças e atirar-lhe com água que, por sorte o fez desistir. Foi um sufoco :) ! 

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O resto da viagem foi tranquila e até cheguei a Celorico da Beira com bastante antecedência.

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Chegado à estação de Celorico da Beira, e já à espera do comboio para voltar para casa veio o mais difícil, a confirmação de que tinha terminado, isto com uma sensação de tristeza misturada com euforia. Afinal, tinha terminado a minha maior aventura de sempre...

Apesar de ter feito o caminho todo sozinho, nunca me senti só...
O mais difícil foi mesmo vir embora!





1 comentário:

  1. Boas
    Há possibilidade de disponibilizar os TRACK'S utilizados. Grande aventura. Obrigado pelo seu testemunho

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